quarta-feira, 3 de maio de 2017

O Caçador de Renegados - Capítulo II - O Encontro

- Missão é o caralho! – e deu três tiros na figura esquisita. NADA, nem balançou... E RIU! Alto, uma gargalhada que o arrepiou...

- Você acha que essas bolinhas de chumbo me farão mal? Desculpe, Roberto, mas nem fizeram cócegas...

Nessa hora toda a sua valentia, preparo, foi tudo pro ralo. Correu, entrou no carro, deu a partida e voou pra casa. Radar, semáforo,  só queria era chegar em casa e matar outra garrafa de vodka... ou não. “Essa merda deve estar me fazendo mal, queimando meus neurônios...”

Abriu a porta correndo, e deu de cara com quem no sofá?

Isso mesmo, ELE!

- Roberto, Roberto... Não pode fugir de mim. Quer dizer, pode mas não pode se esconder.

- Tá, você venceu... – Sentou-se no sofá de frente, abriu uma garrafa de vodka.

- Melhor evitar embotar a mente, o que vai ouvir pode, digamos... CHOCAR um pouco...

Riu e deu um gole na vodka... e cuspiu na hora, era ÁGUA...

- Então, preciso de você SÓBRIO...

- Vai, desembucha... Quem é você?

- Bom, vai ser complicado...Digamos que você conhece uma estória clássica, que tem um vilão clássico. Agora um plot twist: esse vilão nunca foi REALMENTE um vilão, mas as pessoas que contavam a estória foram, pouco a pouco, transformando esse cara, que teve sim um pequeno desvio, uma rusga, mas nunca foi o verdadeiro vilão. Digamos que eu sou esse vilão, que tenho sido mal interpretado à milênios...

- Hein?!? Não é QUEM estou pensando? – O sangue gelou, não era possível que fosse...

- Lucifer... Isso mesmo, meu amigo, o chamado “Anjo Caído”, mas também o Portador da Luz, a Estrela da Manhã... Eu não caí, fui cuidadosamente colocado aqui... Vou te contar uma historia...

“Apesar daquilo que pregam, que escreverem e escrevem, minha função é, pra usar uma figura conhecida sua, de ‘Diretor de Prisão’. Eu cuido do Abismo, onde os espíritos que causaram problemas aqui na Terra vão purgar seus pecados e aprender, se arrepender e voltar ao ciclo de reencarnações. Ao contrario do SEU sistema, em que o bandido que deveria ser ressocializado acaba saindo pior que entrou, no nosso os internos se arrependem, e voltam ao ciclo para cumprir seus desígnios. Quer dizer, nem todos...
Alguns tidos como irrecuperáveis estavam em zonas mais profundas e, debaixo do meu nariz, conseguiram um meio de fugir. Pior: fugiram e conseguiram um meio de circular entre vocês e evocar a ‘Besta do Apocalipse’... Esse sim, é o cara que se fala na Bíblia, a Serpente, não eu.”
Sua cabeça estava a ponto de explodir com tais informações. Lúcifer bem na sua frente, com a cara mais lavada da face da Terra dizendo que ele não é o “coisa ruim”...

- Muita informação, não é? Tentei resumir o máximo possível, mas é mais ou menos isso. Preciso de alguém ENCARNADO para caçar esses “fujões” e me mandar de volta. E eu escolhi você, Roberto Bellucci.

Tudo rodava, a vontade era voar no pescoço dele. Só conseguia ver o sonho, o culto satanista e a mulher morrendo.

- E esse sonho? Esse sonho vendo a morte da minha mulher? Foi VOCÊ que plantou isso na minha mente?

- Voce estava lá, mas não em corpo. Fora projetado, uma “viagem astral”. Esse fugitivo é bem poderoso, e sabe da sua capacidade para mandá-lo de volta. Ele está querendo intimidá-lo. As pinturas que você vê nas paredes são escrita Enoquiana, a língua dos anjos. É um encantamento que impede que qualquer anjo ou arcanjo penetre naquele ambiente. De fora percebi seu Cordão de Prata, um dispositivo que mantém o seu espírito projetado conectado ao corpo físico, e puxei... foi o que eu pude fazer foi evitar que você visse a cena...

- Mas ela me vê... Grita meu nome!!

- Ela, quando te viu, provavelmente já não estava mais lá... Sinto muito, Roberto...

Ouvir Lúcifer dizer que “sentia muito” não lhe foi muito reconfortante...

- Ok. Você está quase me convencendo... Afinal eu já fui suspenso do serviço da Policia, provavelmente pra sempre... Como faço pra encontrar esses caras?

- Aí que nossas necessidades se encontram. Eu não consigo localizá-los, mas eles são, digamos, “marcados”... Tenho um pequeno equipamento que vai te ajudar a localizar, uma espécie de GPS.
Lúcifer apresentou a Roberto uma espécie de cordão, com uma pedra transparente como pingente. A pedra se parecia com uma estrela, como que marcando os quatro pontos cardeais, bem como os colaterais.

- Esse colar lhe indicará a presença e a direção dos fujões. Use-o todo o tempo, pois eles estão misturados no meio dos viventes.

- E o que eu faço? Exorcizo? Rezo? Canto pra subir?

- Não, usa isso. – e apresentou uma adaga prateada, com uns 30 centímetros de uma lâmina bem fina na ponta, e quadrada, parecida com um picador de gelo. – É uma adaga usada pelos anjos nas batalhas. Somente esse tipo de arma tem a capacidade de quebrar o feitiço e mandá-los de volta pra mim.

Roberto olhou para a arma oferecida pelo arcanjo, e deu sua resposta.

- Não. Nunca matei ninguém que não estivesse trocando chumbo comigo. Não sei quem são essas pessoas, como se parecem... Não, muito obrigado, mas se vira, acha outro, tem um monte de gente que acharia o máximo enfiar esse espeto de churrasco na cabeça de alguém, eu NÃO.

- Ok, não esperava que aceitasse logo de cara. Afinal, com todo o marketing negativo sobre mim, não seria fácil simplesmente topar e “vamos espetar uns carinhas”... Mas pense bem, Roberto. Você preenche TODOS os requisitos, e minha conexão ainda é lá com o Alto. Lá também acham você a pessoa indicada.

- Mesmo assim, to fora. Adeus.

- Até breve... Bellucci...


E sumiu no ar. Deixando mais perguntas que respostas. No mesmo instante Roberto apagou, entrando num sono profundo e voltando novamente à caverna...

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